Radicais de direita, radicais de esquerda

No Weblog do Pedro Doria, que hoje tratava do discurso de Obama no Cairo, o cientista social Antonio Engelke, depois de ler o que os radicais de sempre vociferavam, escreveu:

Da série “Contradições Delirantes e Paradoxos Esquizofrênicos”:

1. Radicais de direita não se cansam de proclamar a superioridade intrínseca da ordem liberal-democrática.

2. Quando questionados, justificam da seguinte maneira (com razão, diga-se): “ora, porque a democracia é o único regime que garante a liberdade dos indivíduos exercerem suas potencialidades; é o único que fornece um arcabouço teórico e jurídico que visa a minimizar o sofrimento, a crueldade e a dor humana; é o único que, em função dos princípios listados acima, permite e mesmo encoraja o sistema a melhorar e corrigir a si próprio”.

3. O fundamento filosófico do sistema liberal-democrático é o falibilismo. Que, em linhas gerais, consiste no reconhecimento de que toda tese é contingente: isto é, não há qualquer tese que esteja para além da possibilidade da dúvida. Se alguém disser que a tese X não pode ser colocada em dúvida, este alguém é um dogmático, não está agindo racionalmente. O falibilismo tende a levar ao que Weber chamou de “ética da responsabilidade”; o dogmatismo tende a levar à “ética da convicção”.

4. Mas, quando confrontado, o radical de direita abandona por completo a possibilidade de que possa estar errado: sua argumentação é desenvolvida exclusivamente por sobre a base da “convicção”, e não da “responsabilidade”. Tudo de que ele dispõe para debater são certezas absolutas, últimas , cujo mero questionamento já constitui uma impropriedade.

5. E, finalmente, quando algum moderado lhe chama a atenção sobre esta contradição — dizendo-lhe que o seu modo de proceder não está de acordo com os preceitos que ele, liberal-democrata, tanto diz defender, e no qual se arvora para justificar a sua superioridade — o radical de direita se refugia numa espécie de pragmatismo bastante peculiar: aquele que acusa qualquer outro tipo de pragmatismo de ser “frouxo”, “ingênuo”, “idealista”, e, portanto, não-pragmático.

6. Resumindo: o radical de direita absolutiza sua própria posição ao mesmo tempo em que acusa seus adversários de serem absolutistas.

E mais adiante:

Da série “Contradições Delirantes e Paradoxos Esquizofrênicos” (Parte 2):

1. Radicais de esquerda não se cansam dizer que o capitalismo é intrinsecamente perverso, e que sua forma política por excelência — a ordem liberal-democrática — também não é lá flor que se cheire, uma vez que lhe serve de suporte e garante o seu funcionamento.

2. Quando questionados, justificam da seguinte maneira (com alguma razão, diga-se): “ora, o capitalismo pode até gerar riqueza, mas gera muito mais desigualdade. Ele é bom apenas para uma minoria. A maioria — e aqui estamos falando não da maioria em um ou outro país desenvolvido, mas da imensa maioria da população mundial, bilhões de pessoas — é absolutamente explorada a um nível degradante: a maioria não vive, apenas sobrevive, e mesmo assim muito mal.”

3. A luta contra o capitalismo, portanto, não precisa de nenhum fundamento filosófico: a mera observação empírica basta. É simplesmente uma questão de justiça. Justiça para bilhões de indivíduos, que muitas vezes sequer têm consciência de que têm direito a uma vida mais digna. Logo, a tomada do poder, a instauração de uma ordem revolucionária com vistas a socializar a produção e distribuição de riquezas, não é apenas uma questão de conferir materialidade a esta abstração filosófica chamada “justiça”: é também e sobretudo um imperativo moral.

4. O problema é que, para tornar efetiva a socialização da produção e distribuição de riquezas, é necessário suprimir a liberdade individual das pessoas a um nível que para muitos é sufocante. Ninguém pode ter mais do que ninguém. Ninguém pode “ser” mais do que ninguém — embora, é claro, os membros do quadro político oficial “tenham” e “sejam” mais do que os cidadãos comuns que eles supostamente representam.

5. Não obstante, muitos se sentem sufocados, ou simplesmente ficam descontentes com o rumo que as coisas tomam, e partem então para criticar o governo. Isto, é claro, deixa a liderança política em pânico: pois trata-se, afinal, de um sistema que, para funcionar, exige a cooperação uníssona de todos. Se as vozes de descontentamento ganharem projeção e alcance, podem espalhar uma onda subversiva, colocando em risco a viabilidade do sistema. Daí a única alternativa: reprimir com mãos de ferro toda e qualquer possibilidade de crítica, de dissidência.

6. Quando questionados — isto é, quando criticados pelo fato absolutamente contraditório de que, em nome da criação de uma sociedade melhor e mais justa a liderança socialista não hesita em moer os indivíduos que a compõem, por razão pouca ou nenhuma –, os radicais de esquerda se refugiam numa espécie de messianismo auto-evidente: a Verdadeira Universalidade Futura, intrinsecamente virtuosa, a tudo redimirá.

7. Resumindo: o radical de esquerda é motivado pelo objetivo final de instaurar uma ordem justa, mas persegue este objetivo recorrendo a expedientes os mais injustos.

Nada como um ler comentário elegante, inteligente e bem escrito.

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16 respostas para Radicais de direita, radicais de esquerda

  1. O radical de esquerda mente sua preocupação com os “bilhões de pessoas carentes”, é isso que os torna mais odiosos do que os de direita (que também são cheirosos como flores de velório).

    O radical de esquerda traz como inovação o recurso sistemático à chantagem emocional. Quem não se comove com o pobre, o miserável, o despossuído, o carente, o excluído, o desdentado, o descamisado, o sem terra, o índio, o gay, o negro, a mulher, a minoria oprimida? A todos, o radical de esquerda oferece sua bandeira: “Quando tomarmos o poder, vocês todos terão sua vingança”.

    O que aconteceu NA PRÁTICA onde o radical de esquerda tomou o poder?

    Censura e matança, sem exceção.

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    • Ricardo C. disse:

      Entendi direito? Vc sugere mesmo que os radicais de esquerda conseguem ser piores dos que os de direita?? Ó dúvida, Alexis, ó dúvida…

      Os dois extremos são bem ruinzinhos, e o histórico das ditaduras comunistas é mesmo ruim. Mas para mim, quando no exercício do poder, radicais não têm lado: são todos a mesma desgraça — só para não dizer que são a mesma merda.

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      • Os radicais de direita não mentem sobre suas intenções. Quando chegarem ao poder, vão matar todo mundo e censurar tudo. E matam mesmo e censuram sim.

        Já os de esquerda posam de “humanistas” mas, quando chegam ao poder, matam todo mundo e censuram tudo do mesmo jeito. Só que a censura é muito mais completa e a matança muito mais ampla do que nas ditaduras de direita. A História comprova e demonstra, não é preciso filosofar, é fato.

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  2. Pax disse:

    Melhores? Piores?

    Que nada, são o que são, radicais. Sejam de um lado ou de outro. Pouco importa.

    Em outras palavras, educadíssimas: uns puta pé no saco.

    Bem, há uns divertidos. Que não representam a grande maioria mas sim a confirmação que todas as regras têm exceções.

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  3. sizenando disse:

    Ricardo, vou cuidar desta postagem o mais respeitavelmente que me for possível.
    Não vou analisar o texto original, bem construído mas discutível em sua lógica e argumentação.
    Basta dizer que ao final nada mais é, creio, do que um jogo de palavras bem ajeitado
    mas infelizmente útil para deixar em posição confortável aqueles que buscam justificativas
    para não firmar posição, contra ou a favor, seja qual for o assunto.
    Vou cuidar dos comentários acima alinhavados e resultado, a meu ver, dessa confusa situação,
    dessa verdadeira geléia geral que a vida intelectual e cultural contemporânea tem produzido e fortalecido.
    Aproveito pra desculpar-me, de antemão, por deslizes e erros em meu escrever a seguir,
    texto que não revisarei ou cuidarei muito – vou deixar as palavras “irem saindo”, irei escrevendo como que conversando.

    Veja, vocês atribuem à expressão “radical” um sentido negativo, tal como se fosse algo ruim, um defeito,
    algo a se evitar, pejorativo mesmo. É bom lembrar que ser radical é pretender ir até a raiz, até o fundo de uma questão qualquer. Há quem acredite que ser radical é pregar a intolerância, sair pra porrada sempre, não importam as condições que
    cada momento histórico desenhe e que, significando realidade objetiva, impõem aos homens, organizados ou não,
    como cenário para sua ações – sejam de ordem social ou política ou, ainda, meramente da esfera de suas vidas pessoais.

    Não existe uma moeda cujas dois lados são o “radicalismo de direita” e o “radicalismo de esquerda”. Esquerda e direita
    não pertencem, histórica ou emocionalmente, ao mesmo saco. Quando mentem, sim; quando violam os direitos humanos, sim; quando optam pela violência física ou psíquica, sim.

    O totalitarismo não é fruto do “radicalismo”: expressa o exercício do poder pela força e para a manutenção do controle do
    poder.

    Não é certo dizer que a esquerda mente e a direita não esconde seus reais interesses, quando lutam pelo poder. E, atenção,
    lutar pelo poder não é errado. O poder político não é uma coisa maléfica!

    Olhem, censura é ruim sempre… não existe maior quantidade de censura ou violência em governos de esquerda ou ditaduras, algo assim foi escrito aí em cima, do que em governos ou ditaduras de direita…. não existe um violenciômetro capaz de avaliar se a esquerda fez mais estragos do que a direita, onde assumiu o poder político e o controle do Estado.
    Vamos com calma.
    A política concretiza-se no dia a dia, independentemente de nossas opções pessoais, nossos desejos e vontades. Olhem, tempos atrás, aqui no torrão, no debate ideológico e, sim, filosófico, entre certos setores de nossa esquerda [outra chamada, há setores diferenciados, bem diferenciados, dentro do espectro da esquerda] surgiu a expressão “democratas radicais”; eram pessoas que assim apresentavam-se, conclamavam ao debate e à ação, aqueles que não aceitavam mais a falta de democracia interna do partido político, e que a ação partidária, capaz de organizar a massa para a ação política, deveria sempre ser pautada pela ação democrática, em qq setor, em qualquer assunto. Democratas radicais, sim, dentro da opção de esquerda, sim, dentro da corrente que defendia ou defende a opção de organização social pelo socialismo. Isso era expresso, dentro do tal debate, pela definição da democracia como “valor universal”.

    Então, a crítica mais profunda às experiências do “socialismo real” ou às tentativas de novos caminhos para o socialismo e ainda para o comunismo, não poderá se basear em rótulos ou definições superficiais e, muito menos, na definição de que esquerda e direita são a mesma coisa. A crítica à ação política, ou à história humana relacionada à política e à organização social, só poderá ser mais fecunda se atenta ao “desenvolvimento histórico” e proponente de alternativas à continuidade da ação política e social organizadas.

    Desculpe tomar todo este espaço, Ricardo. Não esclareci tudo, sei que minha manifestação está incompleta,
    mas não podia deixar de meter minha colher.
    um abraço

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  4. Antonio disse:

    Já eu penso o oposto de vc, Alexis.

    Vc supõe uma certa “consciência do próprio mal”, de ambas as partes. Radicais de direita e esquerda seriam, sob o seu ponto de vista, cientes de que, uma vez no poder, vão praticar atos errados — e diferença estaria no fato de que os radicais de direita não seriam hipócritas a este respeito.

    Mas perceba: tanto os radicais de direita quanto de esquerda são imbuídos de um espírito de “missão”. Acreditam ser parte de uma espécie de Cruzada do Bem contra o Mal, o que é facilmente perceptível em livros, entrevistas, debates etc. Aonde quer que haja um radical argumentando, lá estará também o elogio de sua própria atitude como um espécie de imperativo moral.

    Meu ponto é: radicais só fazem o que fazem (em termos de ação política) não porque se sabem malvados, mas ao contrário, porque acreditam resolutamente na bondade intrínseca de suas intenções e atos. Em outras palavras: Bush não esfregava as mãos e sorria diabolicamente em frente ao espelho, dizendo “ha ha ha, agora eu vou prender e arrebentar geral…”. Bush pensava consigo mesmo “eu, na qualidade de líder da nação que comanda o Mundo Livre, tenho a obrigação de levar a liberdade, a justiça e a democracia aos quatro cantos do mundo, mesmo que eles não queiram”. Da mesma forma, Fidel não se achava “maquiavélico”: ele pensava em si próprio como alguém que estava liderando uma revolução rumo à verdadeira liberdade, justiça etc.

    Aliás, esta é a inspiração que anima todo movimento de conquista… A história está cheia de exemplos — espanhóis no século XV, ingleses e franceses no XIX, só para ficar nos mais evidentes. Trata-se de um mecanismo bem simples, na verdade: se vc se julga superior aos outros, vc naturalmente é tomado pela sensação de ter a obrigação de ajudar estes outros a evoluírem. Se eles resistirem, vc persistirá na missão de qualquer jeito, pq afinal vc sabe o que é melhor para eles.

    Não a consciência da maldade que impulsiona radicais em suas missões civilizadoras. É a ilusão de sua própria superioridade, que engendra outra ilusão, a da benevolência.

    Abraço,

    Antonio Engelke

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  5. Antonio disse:

    Sizenando,

    Obrigado pelo comentário. Levanta questões importantes.

    Eu começaria fazendo uma ressalva: não quis dar a entender que considero que esquerda e direita “pertencem, histórica ou emocionalmente, ao mesmo saco”. Afirmar isso seria uma impropriedade completa. O que eu quis dizer foi que, os extremos de ambos os espectros políticos levam a ações que são contraditórias. São contradições distintas, que têm pressupostos e consequências igualmente distintas — mas ainda assim contradições.

    Sua observação, no entanto, procede. De fato, para ser mais fiel ao meu próprio argumento, eu não deveria ter falado em “radical de direita ou de esquerda”, mas sim em “extremistas de direita ou de esquerda”.

    Há também uma preocupação importante no seu comentário: é que frequentemente a crítica ao extremismo assume um caráter conformista, passivo, cínico num certo sentido. Com isto quero dizer que concordo com a idéia de que a moderação, às vezes, cai como uma luva para “aqueles que buscam justificativas para não firmar posição, contra ou a favor, seja qual for o assunto.” O que, em última análise, poderia ser visto como um conservadorismo disfarçado.

    Não é o meu caso.

    Para deixar claro: sou de esquerda. Mas de uma esquerda que acredita que, por mais defeituosa que seja a democracia, trata-se de um valor político excelente, que deve ser cultivado. Meu anseio é por reforma, não por revolução — embora, é claro, eu esteja ciente de que teorias liberais prevêem a desobediência civil em caso de péssimo desempenho da autoridade constituída, e concorde ativamente com isso. Prezo a defesa das liberdades individuais, o que no entanto não signifique que eu as considere valores absolutos. Não são — nenhum valor é. Todos os valores são relativos, contidos por outros valores, conflitantes no mais das vezes. Com efeito, pode-se de fato falar em liberdade quando se é escravizado pela ameaça da fome, ou da morte violenta?

    Minha defesa da moderação, da ética da responsabilidade, não está fundada num conservadorismo latente ou disfarçado. Ao contrário, ela caminha lado a lado com a minha crítica à ordem liberal-burguesa. Aqui não faço mais do que seguir a receita de um intelectual que admiro muito, o Luis Eduardo Soares, ou seja, a adesão minimalista à teoria liberal-democrática e adesão minimalista ao pensamento crítico, articulados de modo pragmático.

    Diz Soares:

    “Para acentuar a legitimidade do híbrido liberal-crítico, basta mencionar os casos extremos, atualizados pelos personagens patéticos – e os há, em grande número – que se salvaram do hibridismo, rendendo-se integralmente a uma ou outra opção: de um lado, os arrivistas que se ufanam das virtudes do liberalismo, entendido no sentido latino da palavra; e, do lado oposto, os que resistem à mudança, se fecham mais e mais, e lutam como podem para manter os farrapos de suas convicções dogmáticas. O patético dessas posições extremas revela, por contraste, a sensatez e a riqueza dos hibridismos”

    Abraço,

    Antonio Engelke

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    • sizenando disse:

      antonio, gratíssimo pelo comentário. conforme disse acima, não iria cuidar muito de meu texto que, por mais que me esforçasse, não conseguiria construir grande clareza em minha argumentação.

      concordo com o que diz, respeito como se posiciona. cabe aqui um pedido de desculpas e reafirmar o seguinte: foi a respeito de outros comentários que afirmei serem a direita e a esquerda pertencentes a sacos distintos, rs.

      um abraço, fico mais tranquilo por enxergar que sempre há espaço para a discussão e a crítica, digamos assim, construtivas. saudações democráticas!

      sizenando

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  6. Antonio disse:

    Sizenando,

    Não há o que desculpar. Suas observações foram pertinentes, e educadas. É isso que faz o debate ser bacana, construtivo.

    Abraço,

    Antonio

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  7. gugaalayon disse:

    Tendo a achar que os piores são ainda os “radicias ” do “Centrão”

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  8. Ademonista disse:

    (Cheguei a este blogue, pois apareceu nas configurações do meu blogue uma entrada daqui; obrigada, o melhor dessa idéia de “favoritar” é a possibilidade de conhecer bons espaços).

    Gostei muito do comentário do Antonio, mas, ao meu ver, além da autocontradição evidente já apresentadas dos dois discursos, a esquerda ainda apresenta um ponto que depõe contra ela: o fato de que ela também “abandona por completo a possibilidade de que possa estar errada”. Isto é, o “messianismo” também significa – além da idéia já denunciada acerca da liberdade – não enxergar a própria postura, nesse sentido, fazendo alusão aos chamados “militantes”, nos deparamos com uma cegueira, uma preguiça, uma falta de investigação acerca da realidade. Se serve à esquerda algo que se apresenta na tevê, na internet, ou em qualquer veículo de comunicação, ela se apropria disso sem questionar, apenas porque o fim a qual ela recorre está sendo “satisfeito”: a crítica ao capitalismo, às injustiças, etc. Nesse sentido, penso que o “radical” de esquerda não é tão radical, pois, originalmente, não está trabalhando com a raiz do problema e sim apenas com o que se apresenta de imediato, com a superficialidade; em suma, esta é uma das consequências da mera observação empírica.

    Bem analisado também, dentro do comentário, o fato de que a esquerda acaba por esquecer de que muitas vezes está focada em conceitos (isto é, abstrações) e não em algo concreto. Falta-lhe uma base substancial, afinal, a avaliação do próprio discurso. Muitas vezes, em nome do progresso (leia-se tudo que vai contra o conservadorismo), por exemplo, perde-se bastante, inclusive o contato com o que deveria ser uma exigência, aquilo que Marx falou, o proletariado – tanto do corpo como da mente, como bem diria Zizek. Se existisse uma autoavaliação, além de uma “flexibilidade” maior (em contraponto ao comum dogmatismo presente em seus discursos), talvez a esquerda tivesse uma adquirisse uma clareza capaz de convencer e, portanto, capaz de se tornar mais eficaz.

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    • Ricardo C. disse:

      Ademonista, cheguei ao teu blog pelo Hermenauta, e como gostei muito de tudo o que li, só podia mesmo colocá-la em minha lista de favoritos.

      E quanto ao seu comentário, devo reconhecer que o messianismo cheio de boas intenções é muito comum entre pessoas que se dizem de esquerda. E nesse sentido, muitos dos que se posicionam criticamente em relação aos tais messias acabam sendo vistos como traidores e tendo os seus discursos simplesmente invalidados… o que é uma pena, diga-se de passagem. E ainda a propósito do teu comentário, o próprio Antonio refletiu sobre sua utilização da palavra “radical”, que talvez devesse ser substituída por “extremista”.

      É isso.

      E sinta-se em casa, não se furte de comentar sempre que achar algo que lhe interesse.

      Abs

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  9. André Egg disse:

    Cheguei atrasado na discussão. Aliás, ando chegando atrasado em tudo, sempre.

    Me preocupa no comentário-quase-post do Engelke uma certa confusão entre radicalismo de esquerda (depois ele substitui o termo por “extremismo”) com os práticas do comunismo soviético da IIIª Internacional – stalinista. Para exercer a hegemonia no movimento comunista mundial, contou com a competência estragégica para derrotar, silenciar e matar os radicais de esquerda. Isto durou até 1956, quando o degelo transferiu o primado do totalitarismo para China, Cuba e outras ditaduras do chamado “socialismo real”.

    Seria bom para a verdade histórica que é consenso na esquerda a condenação à “ditadura do proletariado” como tática válida para atingir qualquer utopia política. E isto já era fato muito antes da revolução bolchevique, que sempre foi muito criticada pelo marxismo europeu.

    É preciso que se diga, ainda, que os radicais de esquerda no Brasil são exemplo para o mundo. Depois do fracasso do putsch de 1935, o PCB tornou-se reformista, fez alianças estratégicas com Getúlio e JK, teve papel preponderante na literatura, na telenovela, na música e no cinema brasileiros, rompeu com o estalinismo deixado para o PCdoB, dilui-se no MDB, reagrupou-se no PT e hoje tem efetiva participação no governo Lula.

    Um radicalismo de esquerda negociador e nada totalitário, bem à brasileira, e que obtem certo sucesso eu diria…

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    • Ricardo C. disse:

      André, tarde sim, mas bem-vindo de todo modo. Há de se contextualizar outro aspecto, e ele não está propriamente na história geral e sim onde o comentário reproduzido aqui foi originalmente escrito, levando em consideração tb o público-alvo: a caixa de comentários do Weblog do Pedro Doria, cheia de trolls. Estou certo de que o Antonio Engelke compartilha com vc tudo o que está no teu comentário, mesmo não tendo procuração para representá-lo. De qualquer forma, no que me diz respeito eu mais aprendo com vocês do que debato.

      Grande abraço

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      • André Egg disse:

        Ricardo,

        muita gentileza da tua parte – agradeço.

        A caixa do PD é mesmo um problema sério. Também não estou contra o Engelke não. Só acho que simplificou um pouco a questão.

        Abraço,

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      • Peter disse:

        O capitalismo existe. Fato!!! Quem o defende é de direita!!! Atribuir o termo radical a um determinado modo de fazer esta defesa pode ser um erro.
        Na verdade, ser radical é estar muito bem embasado naquilo que se afirma como verdadeiro. É o contrário do achômetro. Ser radical é defender argumentando com base em fundamentos sólidos.
        A defesa apaixonada e meio doentia a favor ou contra não é radicalismo. A este comportamento, o professor Paulo Freire, chama de sectarismo. Portanto quem age deste modo não é radical nem de direita e nem de esquerda. É um sectário de direita ou um sectário de esquerda.
        A humanidade caminha constantemente e sempre alguém pensa em sugerir um destino e como chegar a este destino. Como o homem é um ser social, (Mesmo quando ele se isola do mundo para medidar ele medita o seu contexto social) a proposta pensada se viabilizará ou não dependendo dos grupos e ações e reações ocorridas no interior dos movimentos sociais onde se realiza o poder e com ele as decisões e determinações dos destinos humanos. Ainda tem muita gente defendendo o capitalismo e outros tantos condenando e propondo outros caminhos. E assim caminha a humanidade.
        A principio não gosto do ´do principal objetivo do capitalismo, a acumulação sem limites de riquezas por meio do lucro. Tudo o mais está em segundo plano. nesta proposta.
        Do outro lado a esquerda ainda não conseguiu afinar a própria viola. Os rachas entre os partidos de esquerda são tão grandes a ponto de atrapalhar uma convivência visando a construção de um projeto comum. Basta ver que Stalim, matriz do PCdoB, mandou matar Trotski, matriz intelectual do PSTU, que repugna o PCdoB. e são tantos outros Ps… Só no Brasil existem três centrais sindicais de esquerda (CUT, CONLUTAS e CTB). Estas divergências não são apenas entre pontos pouco relevantes, mas de projeto, existe oposição entre as mesmas.
        Isto que demonstra que não existe uma radicalidade suficiente no pensamento da esquerda que seja capaz de convencer nem mesmo a própria esquerda.
        Como a política é jogo em que não há lugar para torcida, se queremos sugerir algum destino, temos que entrar no jogo, encontrar parcerias e jogar, conquistar espaços e determinar conforme o projeto pretendido.
        Mas eu detesto política!!! Mesmo assim estou no jogo. Imaginemos uma gota que cai em uma correnteza…Ou ela compõe a força que arrasta, ou ela será arrastada pela força. Somente os desanimados não tem como participar da política. (des=tirar; anima=Alma, ou seja sem alma somente os mortos)…..

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