Escrever um livro? Vire essa boca pra lá!

Amigos são ótimos, mas às vezes te afastam do razoável, atrapalhando o saudável e necessário exercício da autocrítica. Calma, explico e exemplifico: (Ou talvez só exemplifique, já que os neurônios para dar conta de explicar andam escassos…):

o único lugar em que há “traços de literatice” de minha autoria é este blog.

(A expressão em negrito não é falsa modéstia, garanto. É apenas uma simples constatação, possível graças ao tal saudável e necessário exercício de que falei linhas acima.)

Acontece de alguns amigos lerem essas garatujas e gostarem delas — porque algumas são mesmo “gostáveis”, e até que funcionam direitinho num blog, ouso dizer — e depois dizerem coisas como “quando sai o livro?”, “você deveria inscrever-se num concurso literário!” etc. e tal. Claro que nessas horas é difícil não abrir um sorriso de satisfação, sentir o ego acarinhado e, sem perceber, confundir tais elogios sinceros e afetuosos com a aprofundada análise crítica sobre a qualidade desses meus garranchos.

É importante frisar que os meus amigos não são idiotas e nem pretendem ir tão longe. (amigos idiotas, eu? Nunca! 🙂 ) Mas a vaidade, essa sem-vergonha, volta e meia distorce as coisas. Nessas horas, ainda bem que a idade tem a propriedade de trazer consigo alguma experiência — traduzida em parâmetros razoáveis de avaliação das coisas —, e no meu caso, em se tratando da escrita, ainda posso contar com o auxílio luxuoso de alguns literatos que tive o privilégio de conhecer e que não têm pruridos de apontar o que falta (e o muito que sobra!) nas linhas que volta e meia escrevo.

Bom, expliquei com esse exemplo da escrita como os elogios dos amigos têm o efeito colateral de nutrir a vaidade, e como esta última é pródiga em nos fazer acreditar que somos muito melhores do que de fato conseguimos ser. Falei também que por vezes a idade conta a favor, não sem sublinhar duplamente esse “por vezes”. E acrescento, por último, a sorte de haver algumas ferramentas auxiliares, compartilhando uma delas com todos aqueles que andam com uma vontade irresistível de publicar aquilo que escrevem. Trata-se de dois textos, o primeiro deles intitulado 5 Reasons why you don’t need to write a book, escrito por Penelope Trunk — e encontrado ao perambular pelo blog Liberal, Libertário, Libertino, do Alex Castro —, e o outro, da autoria do escritor (com “e” maiúsculo) Sérgio Sant’Anna, publicado no excelente portal literário Cronópios, com o título de A arte de não escrever.

Dito isso, posso agora afirmar, sem receio de errar, que não, não há literatura por aqui, exceto aquela praticada por escritores de verdade, que costumo citar na qualidade de leitor amador, digo, apreciador de literatura (alta, média e baixa, e entenda essa classificação como lhe der na telha).

Dito está, e revogam-se as disposições em contrário.

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22 respostas para Escrever um livro? Vire essa boca pra lá!

  1. efêmera* disse:

    antes que esqueça : eu !!
    pq esse post vai encher de puxa saco ! kkk

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  2. Diego Viana disse:

    Salve, Cabra.

    Estive lendo as provas do seu livro e devo dizer que está ótimo. É uma pena que até o mês que vem, quando você quer que ele saia, não dê pra entregar tudo pronto. Sabe como é, a gráfica atrasa. Mas liga não, vai divulgando, quando sair vai ser um estouro!

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  3. Pontuando: um bom livro sobre o “não mais escrever” é Síndrome de Bartleby, do escritor espanhol Enrique Vila-Matas, que narrou de forma semi-documental semi-ficcional a história de uma série de escritores famosos que, de uma hora para outra simplesmente desapareceram do mundo literário, como que se tivessem subitamente “secado”. Gostei muito do livro e recomendo fortemente, bem como O Mal de Montano, do mesmo autor, no mesmo estilo metaliteratura.

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  4. Ricardo C. disse:

    P.S. Já folheei alguns livros do Vila-Matas, mas por uma razão ou outra acabei não comprando. Vou dar-lhe mais crédito nas próximas compras literárias.

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  5. Pax disse:

    Bem, a efêmera apareceu aqui, apareceu acolá e não aparece nos meus alhures.

    É porque não estou com livro no prelo.

    Entendi. Ok, Ricardo, pelo menos o meu autografado!

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  6. anrafel disse:

    Ricardo C.,

    Na qualidade de autor de negativas a cerca do seu livro, estás em boa companhia. Assim de bate-pronto, lembro de Ivan Lessa e Cláudio Abramo (os livros dos dois acabaram sendo compilações de crônicas e artigos).

    Mas, fica tranqüilo e pode levar o tempo que quiser para decidir. Cartola gravou o primeiro LP aos 60.

    (Efêmera, gostastes da puxada de saco?)

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  8. A opinião de amigos é algo complicado. Tenho ENORME tendência a desconsiderar. Não sei se é inteligente fazer isso, pois a massagem no ego é gostosa, não?

    Tento “jogar” meus textos em locais onde não sou muito conhecido e que sejam de boa visitação. É difícil achar um lugar assim, mas na semana passada, pude ter acesso a um. Escrevi isto aqui ( http://miltonribeiro.opensadorselvagem.org/marquinhos-e-enzo-o-grande/ ) e pude publicá-lo num site muito bom cujo assunto é futebol. Ali pude ler opiniões de gente que se lixa para mim. Para minha sorte, o feedback foi mais do que bom.

    Gosto muito do Sant`Anna. Não conhecia este texto. Obrigado!

    Grande abraço.

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  9. efêmera* disse:

    anrafa ! kkk

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  10. Pax disse:

    Efêmera* é ingrata e injusta. Sei bem quem é essa moça, mora em Quixeramobim, sertão da Paraíba, tem 5 maridos e 16 filhos, 18 amantes e 37 pretendentes na fila.

    Mas prometeu pra euzinho que seria minha sua primeira poesia, seu primeiro livro, seu autógrafo especial, seu beijo de queijo coalho. Crédulo, acreditei e esperançoso nutri a paciência.

    Heis que um dia Efêmera aparece ao longe e minha alegria incontida se fez, foram, afinal, meses de aguardo e recesso, de expectativas e frustrações, mas de uma expectativa sem fim e ela estava lá, agora e vindo em minha direção.

    Era o momento da vida, o momento da realização, o momento do momento até que…

    Ao observar um pouco mais, ao já reparar que seus olhos traziam mais algumas marcas de expressão, nada que incomodasse, nada que não fosse sublimado pelo sublime da paixão, mas alguém a acompanhava. De súbito imaginei um parente, alguém de confiança, alguém que a protegia na caminhada.

    Mas ela se aproxima e vejo o acompanhante e ela juntos, não como estranhos, mas como íntimos de uma amor que me era prometido.

    Ela e Ricardo de mãos dadas, olhando para mim com a cara de quem precisavam ter alguma explicação a dar, algo que reconfortasse, afinal eu era um amigo fiel.

    Mas sim, aquela cena foi a tortura mais dura, a chicotada n´alma, o cuspe na cara, a desculpa esfarrapada, para um coração destroçado.

    Agora me restam as dores, a solidão, a frustração, o sentimento de ter jogado fora uma vida inteira, e as teclas dessa Remington para desabafar as dores da vida.

    Nada mais me resta.

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  11. Pax disse:

    De que adianta? É o coração da Efemera* que perdi. Dá-se um cabo num Ricardo e ela irá para qualquer outro X.

    Agora só me resta sofrer e esperar que alguma Eperene* apareça, alguma que seja capaz de suplantar tamanha dor do abandono. Sinto-me como os cães largados por seus donos nas estradas da vida, sem sentido, sem destino.

    Mas a vida é pródiga, ou se acaba ou se renova. Alguma das opções haverá de ser a minha. Só espero, num rompante vingativo, que se a minha se acabar, se esvair em dor e solidão, Efêmera* sinta suas culpas como chicotadas, se é que ela tenha algum sentimento humano, demasiado humano.

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  12. Jåµë§ ßønd disse:

    + Para deixar de ser ordinário, eu resolvi não escrever um livro. Mas, sim, músicas.

    É como dizem, salve um artista antes que ele vire um designer.

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