E saudades de ti. Saudades da C. Saudades da A. e do P. Saudades da R. As dos três últimos eu até poderia remediar, mas tá difícil por motivos vários, provavelmente semelhantes para nós todos. As de você e C. não, por conta da distância, mas é meio que álibi. Bem provável que se morássemos na mesma cidade eu colocasse as duas na categoria dos outros três.
Tá duro, tá tudo muito duro como há décadas eu não sentia, tirando aqueles meses no ano de… você lembra, já falei sobre o assunto contigo. E me desculpe insistir no tanto que está duro, sei que pra você também. Mas se de vez em quando eu não tocar no assunto contigo não sobra muita gente com quem conversar, né? Então, como ia dizendo, tá difícil de um jeito complexo, porque é coisa que se arrasta há um bom tempo e não parece que vá melhorar tão cedo. A sensação é a de que o comando da porra toda está com os piores de nós, os sem escrúpulos, os sociopatas, os kapos, aqueles com ácido no lugar de sangue feito o oitavo passageiro que devorou noventa e nove por cento da tripulação da Nostromo em mil novecentos e setenta e nove, lembra? Aliás, devem ser mesmo daquela espécie, só pode, uma capacidade de sobrevivência impressionante e um poder de causar estragos em massa que parece de outro mundo, não fosse mesmo deste.
Sei que me repito no que escrevo. É o que mais faço, faz tempo, a (minha) inequívoca constante nesse quadro em que vivemos, com os parênteses incluídos. E reconheço que nessa repetição vejo e repasso não só as dificuldades da gente, nós que viemos de tempos sombrios, mas vimos e experimentamos na pele um solzinho cálido — não falo do verão carioca nem do calor que a gente detesta, claro –, pelo menos por alguns anos. Vivemos a redemocratização, a possibilidade de eleição, a hiperinflação, a estabilização, a virtualização, a… ufa, é muita coisa pra relembrar da década de oitenta pra cá, pondo na conta o privilégio de acompanharmos os filhos dos nossos amigos virando adultos numa conjuntura tão mais favorável que a nossa na idade deles. Não que tudo tenha sido assim mais fácil, até porque o mundo ficou mesmo bem mais complexo, com o longe agora perto e o perto cada vez mais longe. Mas experimentarmos o saldo tornar-se minimamente positivo e que se fodam os ciclos do capitalismo porque a vida pode ser melhor pra mais gente e com a gente junto, independente das nossas crises individuais, foi bom demais, não posso e nem quero negar. Mas sabe aquela frase “tem, mas acabou”? O sentimento agora é de “não tem mais”, apenas acabou e sei lá quando vai voltar a ter.
Então tá, bora fazer o jogo do contente não só que nem a Pollyanna, mas dando uma de Ingemar, o menino de “Minha vida de cachorro“, para quem a Laika é que teve vida dura, mandada sozinha pro espaço e condenada a morrer de fome, a pobre. Ou seja, até acredito que a vida por estas bandas deva voltar a melhorar, com um trabalho da porra, mas não agora e nem sem muito mais retrocesso do que o que estamos sentindo na carne, no tutano dos ossos e no oco do cérebro, pelo menos do meu. Então é torcer pra que a molecada se una, vá pra praia e refaça os castelos, alterando o projeto pra ficar mais com a cara deles e reforçando um pouco suas fundações, nem que pra isso ponham cimento nessa areia, porque essa história de ver aquele bando de oitavos passageiros derrubando tudo, pra gente se desmilinguir inteiro e choramingar entre a gente sem nem ter pai e mãe pra nos defender já deu o que tinha que dar, concorda?
Bom, fico por aqui. Já disse que estou com saudades de ti?
vamos remediar
como remediar ?
( cada post é tao fresh, tao bonito, tao evidente
me da uma pena de nao ser sua vizinha e poder conversarmos todo dia,
apesar de vc dizer que distancia é alibi…)
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Álibi pra você também que eu sei, né?
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distancia é factual,existe e pronto
percebi leve ironia ?
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Nunca, minha linda. Contigo costumo ser bem direto, já fiz todas as minhas queixas sobre nossa distância lá atrás e pronto, sigo em frente, contente com a convivência virtual da gente. Beijos
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