Rio 40°C ou Rio 313,15 K (de kelvin), dá no mesmo

Não adianta. Posso escrever sobre o que quer que seja: de religião a cinema, de livros a política, passando por cafeteiras e viagens. Ainda assim, o que mais atrai os visitantes para este blog — visitantes estes que raramente voltam, diga-se de passagem, o que me leva a concluir que não encontraram respostas para as suas dúvidas, nem tampouco informações que saciassem os seus desejos — é um post que fala sobre minhas andanças por Copacabana, e que em seu último parágrafo mostra um anúncio onde a “Patrícia Loirinha Gostosa!” diz fazer um “Kelvin Gostoso” por apenas R$ 20,00. Sim, é o tal do “kelvin” — não se tratando de referência à temperatura absoluta ou a alguém que carregue esse nome — que traz mais pessoas para esta minha modesta residência virtual… Bom, como ainda me resta algo da educação familiar recebida, resolvi oferecer uma explanação sobre o assunto que espero útil, não só para que os tais visitantes se sintam um pouco melhor recebidos, mas também para ver se de uma vez por todas encerro essa questão, tratando de tirar as principais dúvidas referentes ao tema.

Ah, só um pequeno aviso: trata-se de uma teoria algo heterodoxa, com nenhuma comprovação científica. Portanto, pensem bem antes de saírem reproduzindo a dita cuja por aí, e ainda por cima dizendo que a culpa é minha. E agora, podem seguir com a leitura. (Ou interrompê-la de uma vez, o critério é de vocês.)

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Kelvin

Definição:
Felatio
(felação); coito bucal.

Origem do uso em solo brasileiro:
Em minhas pesquisas — que como já disse, não têm nenhum valor científico e são absolutamente informais —, ninguém soube dizer ao certo, nem mesmo as pessoas que o oferecem exigindo compensação pecuniária. A minha tese, já publicada em algum comentário por aqui — e cujos elementos aproveito agora para ampliar —, é a de tratar-se de uma corruptela, de caráter homofônico — preciso perguntar aos doutos se em verdade não seria outra coisa, quem sabe uma derivação regressiva, por exemplo —, da pergunta “quer vir?”, que boa parte da população semi-analfabeta, analfabeta funcional ou até mesmo a razoavelmente alfabetizada deste país costuma pronunciar como “qué vim?” (sic).

Há relatos — cuja veracidade obviamente não pretendo comprovar — de que a frase tenha se disseminado inicialmente pelas cidades costeiras, especialmente as portuárias (o que explicaria a freqüência com que, nas pesquisas via Google registradas pelo Sitemeter e comentadas aqui, a palavra venha associada ao bairro de Copacabana, localizado na Zona Sul do Rio de Janeiro). A favor desses relatos há o fato (consagrado) de que em torno dos portos existe um considerável afluxo de “profissionais do sexo” que (desde tempos imemoriais) costumam oferecer os seus serviços aos viajantes das embarcações, embarcações estas em sua maioria compostas por uma população majoritária ou exclusivamente masculina — de orientação sexual correspondente à média mundial, sem deixar de levar em consideração as diferenças culturais sobre uma maior ou menor tolerância no que diz respeito ao homoerotismo —, população tal que, em não poucas ocasiões, permanece embarcada por bastante tempo — de semanas a meses, dependendo da atividade-fim da hidronave —, o que se reflete em seus desejos e/ou necessidades de ordem sexual. É destas “trocas” entre os recém desembarcados e os “em terra” (o trocadilho é permitido), “atravessadas” (idem) não apenas por elementos de natureza econômica (em alusão à disseminação de moedas ditas “fortes” para o pagamento dos “serviços prestados”), mas também cultural e linguística — não tomar a palavra “linguística” como referente ao “órgão muscular alongado, móvel, situado na cavidade bucal, a cuja parede inferior está preso pela base, e que serve para a degustação e para a deglutição” (Dicionário Aurélio), a despeito do referido órgão participar ativamente da atividade-objeto deste comentário —, natureza esta já há muito estudada por filólogos, lingüistas e assemelhados, em se tratando do enriquecimento e da dinâmica de todos os idiomas, dialetos e idioletos. Isto posto, a frase “qué vim?” (sic) como referência ao orgasmo (masculino e feminino) parece ter origem estrangeira, já que é sabido que em língua inglesa, por exemplo, a proximidade do orgasmo costuma ser anunciada por meio do indefectível “I’m cumin’!, I’m cumin’!!!!”. E como há um caráter servil atribuído ao machismo e ao subdesenvolvimento das economias periféricas, a transformação do ativo “I’m comin’!, I’m comin’!!!!”, na passiva indagação “qué vim?” (sic), faz bastante sentido, histórica, sociológica e antropologicamente falando, a despeito dessa pergunta ter posteriormente se transformado em um nome próprio (Kelvin) referido a um substantivo feminino (felação), ainda que de uso majoritário das(os) (mas não restrito às(aos)) profissionais do sexo.

Pragmática:
Em relação à maneira como se utiliza a frase “qué vim?” (sic), o sentido aludido é o de indagar ao parceiro sobre o possível desejo de despejar o seu sêmen, produto regular (mas não exclusivo) do orgasmo masculino, na “cavidade na parte inferior da face (ou da cabeça), entrada do tubo digestivo, pela qual os homens e outros animais ingerem os alimentos” (Dicionário Aurélio), esteja o órgão masculino — através do qual se dá a emissão de esperma — em contato direto com a dita cavidade, ou então mediado por um envoltório, comumente feito de látex, que evita que as mucosas da(o) parceira(o) interajam com o líquido fecundante emitido pelo pênis objeto de estimulação bucolabial, tenha o dono do pênis desembarcado ou não em algum porto, e permanecido, ou não, sem estabelecer qualquer tipo de intercurso sexual durante um longo período de tempo.

Espero, com esta explanação, ter esclarecido o que penso sobre essa questão, sem nada mais a acrescentar em futuros posts neste blog.

Muito obrigado

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[“Explicação” sobre a origem da expressão “faço kelvin gostoso” publicada ano passado por aqui.]

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11 respostas para Rio 40°C ou Rio 313,15 K (de kelvin), dá no mesmo

  1. Ricardo, você conseguiu se superar com esse texto, não consegui parar de rir um só instante. Particularmente interessante para um habitante de Copacabana como eu. Será que o número de visitas aqui na sua página vai aumentar devido às buscas suspeitas? Lá no meu blog a busca sobre “putas” é uma constante devido a uma resenha que escrevi sobre “Memória de Minhas Putas Tristes” do Gabo.

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    • Ricardo C. disse:

      Na verdade esse é um velho post, Alexandre, que escrevi justamente por conta dos já numerosos visitantes atrás de “kelvin gostoso” em função de outro post sobre minhas andanças por Copa. Mas como a seca criativa anda pesada, resolvi republicar sem a menor vergonha, sabendo que muitos dos meus novos amigos — entre os quais vc está incluído — não conheciam.
      O pior mesmo foi um “vídeo pornô sem sexo” muito engraçado que eu postei tempos atrás. Acabei optando por deletá-lo, já que o afluxo de gente atrás de vídeos pornôs ficou tão grande que passou a me incomodar.

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  2. Colafina disse:

    Os termos campeões de buscas que levam ao CF&CG são “sótãos”, especialmente oriundas de Portugal, pelo post Sobre Sótãos, Escritórios e Outras Lembranças!, e “artista Clênio Souza”, pelas Uma tirinha no pedaço, vindas de todo o Brasil. Um tédio…

    [Putz! Preciso publicar com urgência alguma coisa sobre sacanagem para apimentar esses acessos!!]
    😀

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    • Ricardo C. disse:

      Alexandro, esse tédio de que vc fala é que me levou a deletar o tal post que comentei pro Kovacs. Te digo de cadeira: qualquer post que apenas mencione algo sexual vai decuplicar os acessos, mas no fim o tédio segue o mesmo.
      Aliás, é um porre ver que apenas 1% parece ter chegado ao blog buscando algo que a gente realmente escreveu, né?

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  3. André Egg disse:

    Sobre estes estudos que analisam a fertilização lingüística por meio destes intercursos multiculturais, lembro de ter ouvido a explicação de que a palavra “encrenca” surgiu numa situação parecida.

    As prostitutas alemãs e polonesas no Rio de Janeiro oitocentista costumavam recusar certos clientes alegando doença: “ein kranke”, em alemão. Virou “encrenca”.

    Si non é vero é benne trovatto…

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  4. Nhé disse:

    Aqui na terrinha da garoa, o termo é gato-bola… esse tal de kelvin nunca vi, nunca comi, nem sei se estraga seu amor em 3 dias…!

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  5. NA VERDADE O KELVIN DEVIDO AO FATO DE QUE Á TEMPERATURA DE ZERO KELVIN(ZERO ABSOLUTO), QUE CORRESPONDE A -273,15°C, CUJA SIMBOLOGIA É OK, OS ÁTOMOS POSSUÉREM GRAU DE AGITAÇÃO MÍNIMO, PRATICAMENTE SEM CONTATO, ATRITO, HOUVE UMA COMPRAÇÃO COM UM ESTADO DE PAZ, NO QUAL ÉSTA TUDO BEM………..

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