Colcha de (pensamentos-)retalh(ad)os, numa terça à tarde

Declarem estado de peste. Fechem a cidade.

Encerram-se também as portas do primeiro capítulo de “A Peste“, de Albert Camus. E, por fim, a (batida) semelhança com “Ensaio sobre a cegueira“, do Saramago, deixa de zumbir em meus ouvidos.

[Quem zumbe é o livro de Saramago, escrito bem depois de “A Peste”. São décadas separando os dois, e os contextos em que foram escritos — com a França sob ocupação nazista, no caso de Camus — também são distintos. Mas tratar desses paralelos não é o que me traz aqui agora.]

Ninguém sai; não mais. E caso alguém se arrisque a voltar, também ficará preso em Oran, a cidade Argelina onde Camus situa sua crônica. Todos os seus habitantes foram pegos no contrapé, confrontados de uma hora para a outra com o não, com a súbita impossibilidade, essa mesma que a rotina diária nos faz esquecer que existe… Mas assim como os habitantes daquela cidade, não adianta espernear. Qualquer crença de que controlamos o nosso porvir desmorona, qual castelo de cartas, frente ao acachapante imponderável. E pouco importa que para muitos Deus esteja morto há tempos, e que nos tenhamos tornado o centro do (nosso) universo. Aliás, talvez seja por conta disso que costumamos planejar o nosso futuro com fartas doses de otimismo e “estúpida confiança” — como diz o narrador de “A Peste” —, certos de que as coisas correrão como queremos, como se não existisse a possibilidade de eventuais percalços no horizonte…

Mas deixo que a escrita de Camus fale (sobre isso e mais um pouco):

[…] [U]ma das consequências mais importantes do fechamento das portas foi a súbita separação em que foram colocados seres que para isso não estavam preparados. Mães e filhos, esposos, amantes que tinham julgado proceder, alguns dias antes, a uma separação temporária, que se tinham beijado na plataforma da nossa estação, com duas ou três recomendações, certos de se reverem dentro de alguns dias ou algumas semanas, mergulhados na estúpida confiança humana, momentaneamente distraídos de suas ocupações habituais por essa partida, viram-se, de repente, irremediavelmente afastados, impedidos de se encontrarem ou de se comunicarem.

Desencontro, incomunicabilidade. No caso dos habitantes de Oran, percebe-se um “dentro” e um “fora” demarcados, e também um elemento daninho que representa o “mal” (a peste). Ele é a razão do isolamento, da interdição. A peste, de certa forma, é aquilo que todos, de comum acordo, hão de combater. Pena que na vida cotidiana nem sempre as coisas se deem assim, que se tenha um cenário com fronteiras razoavelmente claras, identificadas, cuja localização todos conhecem… Mas prossigo.

Por conta desse mal, “Até mesmo a leve satisfação de escrever nos foi recusada” , diz o narrador. Vale assinalar: trata-se de uma recusa que, embora motivada pelo nazismo pela peste, é perpetrada por outros homens, tão homens quanto os que agora permanecem prisioneiros.

[Aqui daria para falar de Hannah Arendt e a “banalidade do mal“, ou mesmo de Freud e seus “O Mal-Estar na Cultura” e “O Futuro de uma Ilusão”, só para citar referências de dois pensadores seminais. Só me resta avisar-lhes, mais uma vez, que as minhas reflexões são outras, bem mais modestas, de relevância e extensão tão somente blogueiras, isto é, sem pretender altos voos ou mergulhos abissais.]

Segue o narrador:

Por um lado, com efeito, a cidade já não estava ligada ao resto do país pelos meios de comunicação habituais e, por outro, um novo decreto proibiu a troca de qualquer correspondência, a fim de evitar que as cartas pudessem transformar-se em veículos de infecção. A princípio, alguns privilegiados puderam chegar às portas da cidade e entender-se com sentinelas dos postos de guarda que concordaram em facilitar a passagem de mensagens para o exterior. Isso era ainda nos primeiros dias da epidemia, em que os guardas achavam natural ceder a sentimentos de compaixão. No entanto, ao fim de algum tempo, quando os próprios guardas se convenceram realmente da gravidade da situação, recusaram-se a assumir responsabilidades cuja extensão não podiam prever. As comunicações telefónicas interurbanas, autorizadas a princípio, provocaram tal congestionamento nas cabines públicas e nas linhas, que foram totalmente suspensas durante alguns dias e, depois, estritamente limitadas aos chamados casos urgentes, como morte, nascimento e casamento. Os telegramas tornaram-se, então, nosso único recurso. Seres ligados pela inteligência, pelo coração e pela carne ficaram reduzidos a procurar os sinais dessa comunhão antiga nas maiúsculas de um telegrama de dez palavras. E como, na realidade, as fórmulas que se podem utilizar num telegrama se esgotam depressa, longas vidas em comum ou paixões dolorosas resumiram-se rapidamente numa troca periódica de fórmulas feitas como “Estou bem. Penso em ti. Saudades”.
Alguns, contudo, obstinavam-se em escrever e, sem trégua, para se corresponder com o exterior, imaginavam estratagemas que acabavam sempre por se revelar ilusórios. Mesmo quando alguns dos meios que tínhamos imaginado obtinham êxito, ficávamos sem sabê-lo, por não recebermos qualquer resposta. Durante semanas ficamos, então, reduzidos a recomeçar sempre a mesma carta, a copiar as mesmas informações e os mesmos apelos, se bem que, depois de um certo tempo, as palavras de sangue, ditadas pelo coração, perdiam o seu sentido. Então, nós as copiávamos maquinalmente, tentando, por meio dessas frases mortais, dar sinais de nossa vida difícil. E, finalmente, a esse monólogo estéril e teimoso, a essa conversa árida com uma parede, o apelo convencional do telegrama parecia-nos preferível.

Foram essas passagens em negrito (com algumas frases inclusive sublinhadas) que ficaram martelando em minha cabeça, “atrapalhando o jogo” da leitura do livro, assim como sobre a questão do “mal” e suas vicissitudes, de que falei nos colchetes anteriores.

[O que por um lado é bom, já que, como disse acima, Hannah Arendt e Freud são reis no assunto, e a responsabilidade de falar com alguma propriedade sobre a pauta deles seria muita.]

Porque a comunicação genuína — uma fala de preferência “autêntica” e “falante”, e não apenas “secundária” e “falada” (cf. M. Merleau-Ponty), com duas ou mais pessoas interessadas em dizer e em ouvir —, não bastasse ser joia rara, parece a cada dia mais difícil. Isso a despeito da enorme oferta de “tecnologias amigas” ao alcance da mão — as redes sociais, por exemplo, e o twitter entre elas —, que funcionam de um jeito curioso: facilitam o primeiro contato, mas, grosso modo, atrapalham a perspectiva de relações mais profundas.

[Talvez você questione: “e quem disse que relações mais profundas são um ideal a ser perseguido?” Direi que a pergunta/crítica é legítima, mas discuti-la agora fará deste já longo post um livro, então fica para outra ocasião.]

Mas onde eu estava mesmo? Ah, pulei das dificuldades de comunicação genuína e me mandei para as relações profundas. Então deixe eu fazer uns comentariozinhos sobre estas últimas antes de voltar às falas “autênticas e falantes”, e, por extensão, ao livro de Camus.

Não é preciso muita filosofia, psicologia/psicanálise, antropologia e/ou sociologia para saber que o aprofundamento das relações exige tempo, cuidado e disponibilidade para o outro, sem esquecer de si mesmo… (Hmm, combinação entre complexa e confusa, não?) E há uma tônica, por demais comum, que anda atrapalhando tudo: trata-se do excessivo autocentramento — aquela quantidade de “eus” de que tratei em outra ocasião —, junto com o eterno desejo de que o outro esteja constantemente disponível para nós, sem que a recíproca seja necessariamente verdadeira… Então surge a pergunta: em que essas redes sociais, essas tecnologias seriam “amigas da onça”, isto é, atrapalhariam aquilo para que mais poderiam servir? Retomo partes que destaquei de “A Peste”, com algumas alterações “heréticas”:

Seres ligados pela inteligência, pelo coração e pela carne ficaram reduzidos a procurar os sinais dessa comunhão antiga nas palavras e abreviações de uma mensagem de até 140 caracteres. E como, na realidade, as fórmulas que se podem utilizar num telegrama se esgotam depressa, longas vidas em comum ou paixões dolorosas resumiram-se rapidamente numa troca periódica de fórmulas feitas como “Estou bem. Penso em ti. Saudades”.

Pronto, lambança feita. Corrompi a crônica de Camus para fazer a minha apreciação crítica das redes sociais, twitter à frente. Fiz isso, obviamente, tendo em mente algo que vejo perder-se no meio do caminho do uso dessas ferramentas. Ou melhor, aquilo que se deixa de alcançar, mas com a ilusão de que se alcançou… Sim, penso sobretudo na “fala falante” como parte de um “ideal de comunicação”. Até que ponto essas ferramentas — que, apesar do seu caráter instantâneo, tomam um tempo danado —, em vez de servir-nos, nos distraem e até escravizam? Em que medida o que poderia ser “meio” acaba virando “fim”? O quanto elas se tornam centrais, quando deveriam ser acessórias? Este é o meu ponto principal, e consequentemente, a incomunicabilidade “dentro” da comunicação.

No caso de “A Peste”, um dos problemas da incomunicabilidade é, sem dúvida, a restrição que as tais dez palavras num telegrama impõem. Mas lembremos que no livro há outro: dado o fechamento da cidade, os que tentam escrever cartas, mensagens mais longas, ficam simplesmente sem resposta. Novamente, a restrição, o impedimento, têm “culpados”, “responsáveis” claros: de um lado a peste; e de outro, as autoridades que zelam para que esta não se alastre ainda mais. Mas no nosso caso, sem esses responsáveis e culpados claros, sem um representante do “mal” — melhor dizendo, sem que se perceba a existência de alguma espécie de mal —, como pensar em qualquer tipo de estratégia, de resistência (ainda por cima) coletiva? Ou melhor, qual o sentido de qualquer resistência?

Atualizando, cheguei a comentar com o Catatau, quando ele tratou de discutir o twitter, uma versão do que disse alguns parágrafos acima: que em “tempos de paz” e sem uma bandeira mais específica, um dos problemas dessa ferramenta reside em que mesmo que pareça “economizar tempo” e pretender ser “referência de objetividade”, ela não só toma um tempo danado, como também superlota o trânsito ao redor do umbigo da gente…

.

Bom, um pouco de paciência, meus amigos, paciência vos peço. Ainda há muito o que refletir, terreno para limpar e leituras a fazer para que estes retalhos virem um conjunto minimamente coerente, razoavelmente homogêneo, e deixe de parecer um longo pretexto para queixumes (com cara de) anti-tecnológicos, ainda por cima servindo-me de maneira superficial das ideias de alguns pensadores de renome. E como ainda falta muito para chegar lá, deixo pelo menos uma pista de que não sou um fatalista seguro de que caminhamos para a ruína:

Mas onde há o perigo, cresce também a salvação. **

Um ótimo feriado de 21 de abril para vocês.

____________

** Hölderlin apud Heidegger, Martin. A questão da técnica. Scientiæ Studia, São Paulo, v. 5, n. 3, p. 375-98, 2007, p. 391.

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37 respostas para Colcha de (pensamentos-)retalh(ad)os, numa terça à tarde

  1. Pax disse:

    Virgem santíssima do meu eu ateu, a volta ao mundo em 140 linhas pra explicar os 140 caracteres dos 140 melhores autores das 140 amizades virtuais que nunca conseguem se encontram em 140 de 140 dias.

    Mas um dia eu chego aí, sim.

    Abração, meu caro.

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  2. A seguinte parte do seu texto me chamou a atenção:

    “Até que ponto essas ferramentas — que, apesar do seu caráter instantâneo, tomam um tempo danado —, em vez de servir-nos, nos distraem e até escravizam? Em que medida o que poderia ser “meio” acaba virando “fim”? O quanto elas se tornam centrais, quando deveriam ser acessórias? Este é o meu ponto principal, e consequentemente, a incomunicabilidade “dentro” da comunicação.”

    Você conseguiu sintetizar uma situação que tenho vivenciado nos últimos tempos, quando vejo alguns amigos (incluindo aí eu mesmo) completamente escravizados pelas tais ferramentas da modernidade (orkut, facebook, twiter, blog etc) e que, aparentemente, deveriam propiciar um avanço na comunicabilidade. No entanto só posso notar um imenso retrocesso!

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    • Pax disse:

      Só tenho um Senhor, os blogs. Dos outros sou escravo fujão.

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    • Ricardo C. disse:

      Já fui mais “dependente” e escravo, Alexandre, hoje estou um pouco menos, embora reconheça que não é fácil resistir. É que o apelo é grande, especialmente quando vc tem a impressão de que não conseguirá se relacionar com os demais sem o uso dessas ferramentas… O que não é verdade, mas como a velocidade é a regra, primeiro “obedecemos” meio impulsivamente, e só depois refletimos e ponderamos sobre se teria sido tão vital assim ou não…

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  3. Theo G. Alves disse:

    rapaz,
    sabe que até hoje oran ainda me acorda no meio da noite?
    ah, essas lembranças…

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    • Ricardo C. disse:

      Dando um tom sombrio ao teu comentário, Theo, digo não saber de todas as tuas razões particulares para o fantasma de Oran te acordar; mas dentre as coletivas, certamente está o “nunca mais Auschwitz, Treblinka, Sobibor”, essa significativa chaga da nossa própria espécie…

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  4. Luiz disse:

    Grande Ricardo,

    Similarmente ao Pax, acho que meu único vício realmente é o blog.
    No Twitter sou mais leitor que outra coisa. (Meu filho perguntou: “Tu ainda usa isso?…) Facebook e quetais só quando lembro (bem raramente…).
    E Messenger e afins eu passo longe…

    E antes que eu esqueça: o culpado por essa zona toda é você, seu Cabral…

    Falaremos mais em breve…

    Abraços.

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    • Ricardo C. disse:

      Eu??? O que foi que eu fiz???

      Agora me deixou encafifado, vou ficar numa ansiedade danada, esperando outro comentário por aqui, um e-mail, mensagem no Facebook, quem sabe até um aviso no Orkut, hehehe!

      Abração!

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  5. Luiz disse:

    Foi o Lamartine quem levantou a bola:

    Quem foi que inventou o Brasil?
    Foi seu Cabral! Foi seu Cabral!
    No dia 22 de Abril
    Dois meses depois do carnaval…
    Depois Ceci amou Peri
    Peri beijou Ceci
    Ao som…
    Ao som do Guarani!
    Do Guarani ao guaraná
    Surgiu a feijoada
    E mais tarde o Paraty
    Depois Ceci virou Iaiá
    Peri virou Ioiô
    De lá… Pra cá tudo mudou!
    Passou-se o tempo da D
    Passou-se o tempo da vovó
    Quem manda é a Severa
    E o cavalo Mossoró

    E tenho dito…

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  6. Pax disse:

    Boa, bom Luiz, tasca culpa no Ricardo Cabral que ele escreve mais. E aí a gente curte mais.

    Nada de aliviar não, Cabral é culpado sim. Vai se explicando aí, rapá!

    🙂

    Esse blog é um acepipe! Se eu tivesse capacidade fazia um desses, ou talvez faça, quando crescer.

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  7. Catatau disse:

    Muito bom ver Camus por aqui!

    Antes de ler o texto, uma pergunta: essa tradução do Heidegger é a mesma daquela edição publicada dos Ensaios e Conferencias?

    abração,

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    • Ricardo C. disse:

      Não, Catatau, essa foi traduzida pelo Marco Aurélio Werle. Não sei dizer se é melhor ou pior do que a do trio Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Foger e Marcia Sá C. Schuback…
      (Não, não sei os nomes deles de memória. Fui na estante pegar o meu exemplar de “Ensaios e conferências” 😉 )

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  8. Darwinista disse:

    Só pra variar Ricardo, muito bom.

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    • Ricardo C. disse:

      Elogio é ótimo, claro que gosto! Mas queria mesmo é saber, Darw: o que vc pensa, quais as suas opiniões sobre essas questões que eu tão caoticamente levantei ?

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      • Darwinista disse:

        Ricardo,

        Vamos ver se consigo me fazer entender, já que meu cérebro fica desarranjado às segundas-feiras e nos retornos de feriado (e por isso havia me resguardado de comentar o texto).

        Acho que, como em quase tudo, há muitos aspectos interessantes nessa história. Em primeiro lugar, orkuts, messengers e twitters têm uma função de sociabilidade importante para sujeitos e sujeitas mais tímidos, com dificuldade de estabelecer e manter vínculos pessoais de carne e osso. São antídotos pra solidão, especialmente em cidades grandes.

        Por outro lado, funcionam como muleta. Podem desestimular relações pessoais ao vivo. Viciam também, e muito. Eu sou um ex-adicto do ICQ que passou para uma droga mais pesada, o messenger. Ainda hoje tento me livrar dessa praga que me custou e custa ainda hoje boas leituras, bons filmes e, porque não dizer, possíveis boas namoradas.

        Aliás, como já disse algumas vezes no Pedro Doria, e até aqui se não me engano, o vício na internet teve influência definitiva no meu ex-casamento.

        Essa foi só uma introdução. Continuo no próximo comentário.

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      • Darwinista disse:

        Continuando.

        A maneira como qualquer aspecto da vida moderna nos afeta, do consumismo estapafúrdio à hiper-valorização do corpo, depende em grande parte das características emocionais e mentais (podemos dissociar ambas?) de cada pessoa. Há certamente os mais vulneráveis às facilidades da comunicação virtual, pros quais esse tipo de recurso acaba se tornando o fim, e não o meio. Entrar no messenger todas as noites, consultar os mails de hora em hora tornam-se rotinas tão instaladas quanto tomar café ou escovar os dentes.

        Nesse casos, a escravização é evidente. Há quem argumente que o importante é não deixar de se comunicar, não importa qual seja a forma. Mas como alguém que tem como principal meio de comunicação a virtual desde pré-adolescente desenvolve habilidades fundamentais no corpo-a-corpo? Como aprendem a se comportar no trânsito, no cinema, numa fila, tanto para respeitar como para se defender?

        Por ora, acho que é o que tenho pra falar. Como você promete desenvolver mais o assunto, vou guardar outras considerações para o próximo post. Esse assunto é importante e bacana demais pra se esgotar rapidamente.

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      • Ricardo C. disse:

        Deixemos apenas como “características individuais”, Darw, sem categorizá-las. Assim a gente não perde o fio do que interessa, né? 😉

        “Há quem argumente que o importante é não deixar de se comunicar, não importa qual seja a forma. Mas como alguém que tem como principal meio de comunicação a virtual desde pré-adolescente desenvolve habilidades fundamentais no corpo-a-corpo? Como aprendem a se comportar no trânsito, no cinema, numa fila, tanto para respeitar como para se defender?”

        Além dessas questões que vc aponta com precisão, retornaria ao problema da comunicação em si, onde a dimensão da troca fica relegada a 2º plano e o que importa é dizer algo e supor que exista uma plateia para aplaudir/confirmar o que se diz. Isso é meramente autorreferente, autocentrado, e a perspectiva do encontro, das relações Eu-Tu (Martin Buber), nunca se concretiza. A solidão, o isolamento, e o pior, em meio à multidão, parecem imunes ao blábláblá reinante…

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      • Darwinista disse:

        Ricardo,

        Não consegui entender essa frase:

        “Deixemos apenas como “características individuais”, Darw, sem categorizá-las.”

        Gostei da associação entre as muitas falas, desimportantes na sua maioria, e a necessidade da plateia. É mais uma característica de um momento na história ocidental em que, mais que possuir coisas, estabelecer um marco é o que dá status. Não importa se eu ganho um milhão, mas sim que milhões estejam me assistindo enquanto eu durmo, tomo banho e armo um barraco dentro de um confinamento.

        É a encarnação do conto da reencarnação, em que todos foram reis e princesas em outra vida.

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      • Ricardo C. disse:

        Era no lugar do “características emocionais e mentais (podemos dissociar ambas?) de cada pessoa” que vc escreveu. Preferi a sentença que escrevi, já que mental englobaria emocional, e pelo fato de que outras separações meramente conceituais tb existem (emocional/ racional, afetivo/cognitivo/comportamental, entre outras). A questão é que nada disso seria importante perto do conteúdo do teu comentário, muito bom de ler e que amplia bastante a discussão.

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  9. joao~grando disse:

    Se isso fosse uma palestra, eu teria ficado com o braço levantado entre tantos outros braços levantados para fazer uma pergunta ou uma observação. Mas depois abaixaria meu braço e pensaria em silêncio – talvez satisfeito.

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    • Ricardo C. disse:

      João, provavelmente não seria uma palestra, mas sim um convite ao diálogo, à troca de impressões. Tem muitos parênteses espalhados pelo post, muitos pensadores que têm dito coisas que de alguma forma dialogam com o que anda acontecendo, mesmo que tenham escrito suas ideias antes da própria internet existir. Há algo de atemporal no que descrevi, creio eu, algo que não depende desta ou daquela ferramenta tecnológica em particular, e é mesmo da relação do homem com a técnica. Enfim, eu ficaria contente de ouvir as tuas perguntas, que provavelmente seriam respondidas com outras, invertendo a mão de quem diz e quem ouve…
      Abraços, bom te ver por aqui de novo.

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    • gugaalayon disse:

      ahahahahaha
      Nem sei pq estou rindo. Talvez de nervoso por não ter pago o plano de saúde.
      postaço!

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  10. Darwinista disse:

    Entendido, Ricardo. E que bom que meu comentário contribuiu.

    Grande abraço.

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  11. confetti* disse:

    guga, também sorri tanto que aproveitei pra clickar no seu nome…site maneiro de arqui…:-))

    meio stressada pela clareza da analise de seu ricardo…nesse espaço tudo é bom, até o stress e o “monologo estéril”….

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  12. confetti* disse:

    rc,foi stress bom, daqueles que a pupila dilata e faz toin, de prazer…))

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  13. confetti* disse:

    guga, A confetti…))

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  14. Pingback: Propagandas pela metade, equívocos inteiros e… a técnica, de quem somos reféns | Agora com dazibao no meio

  15. Diego Viana disse:

    Acho que a própria ideia de contato já se deixou perder em definitivo. E não foi só isso. Seu corolário, a comunicação, perdeu todo o sentido. Hoje, é perfeitamente possível passar a vida a ensinar coisas que não sabemos, com a ajuda de uma mínima lábia e muita Wikipédia (bom, mais Google). Antes, só o jornalista fazia isso, mas pelo menos ele tinha que subir no arquivo da redação e pesquisar… Ou seja, a velha ideia da comunicação como um colocar-se fora de si para atingir uma síntese com a alteridade, babau. Agora, basta colher aqui e ali as migalhas de uma informação que não informa (no sentido estrito do termo), assim como, voltando para o contato, basta um avatar: rosto sem olhar.

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    • Ricardo C. disse:

      Será que esse seu desencanto, Diego, que tb posso dizer que é meu, está realmente piorando a comunicação? Essa é a minha dúvida. Digo isso porque, ao mesmo tempo, acredito que pessoas como você e eu, o suficientemente antenadas com todas essas ferramentas, também sabem separar o joio do trigo e tirar algum proveito disso, fomentando a comunicação. Aliás, não fosse por algumas dessas ferrmentas, nem teríamos nos conhecido e começado uma amizade, que embora ainda virtual, tem peso.

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  16. Pingback: Um escuro onde a gente vê | Agora com dazibao no meio

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