Em seu blog Ciência em Dia, o jornalista Marcelo Leite publicou um post sobre mais uma pesquisa indicando diferenças estruturais e fisiológicas no cérebro de homossexuais e heterossexuais de ambos os sexos. Realizada pelo Instituto Karolinska de Estocolmo, a pesquisa revela que
“… a amídala – uma pequena área do cérebro importante para o processamento de emoções – de pessoas homossexuais têm semelhanças estatisticamente significativas com pessoas do sexo oposto (ou seja, homossexuais masculinos mais parecidos com mulheres e lésbicas mais parecidas com homens).”
e homossexuais masculinos e femininos em ação.
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O próprio jornalista faz vários questionamentos importantes. Um deles sobre a pouca firmeza dos autores quanto às tais diferenças serem inatas ou adquiridas; e o outro, e que mais me preocupa, sobre as conseqüências, para a sociedade em geral, tanto em relação à interpretação desses resultados — isto é, os homossexuais seriam assim em função da genética, não por “desvio de caráter” ou “imoralidade”, para ficar nos termos mais leves… —, quanto da perspectiva de que esta seja entendida como “doença”,
“a ‘prova’ de que a homossexualidade é uma anormalidade, não um signo de liberdade. Uma doença, enfim, que poderia, e talvez devesse, ser curada ou prevenida, da proveta nas clínicas de fertilização in vitro ao útero e à infância, por meio de testes, psicoterapia e remédios.”
O autor do post em questão é favorável às pesquisas, lembrando (com as devidas ressalvas e adaptações) a posição do Pedro Doria em relação à liberdade de expressão. Sim, pesquisas como a que menciono acima não devem ser proibidas, ainda que seja legítimo discutir a sua utilidade, por exemplo. Por outro lado, e para dar mais molho ao tema, não custa lembrar de uma discussão relativamente recente sobre outra pesquisa, esta bastante polêmica por conta do seu gigantesco “apelo ao espetáculo”, que gerou até mesmo algumas respostas equivocadas do ponto de vista científico, mesmo que com muito boas intenções. Falo da pesquisa para mapear o cérebro de homicidas em busca das bases biológicas da violência, que foi objeto de um ótimo post do meu amigo Catatau, tempos atrás.
Da minha parte, a minha única e singela contribuição ao debate já fiz em outra ocasião, e diz respeito à liberdade que temos frente ao destino, por mais que este se apresente como pura e definitiva sobredeterminação.
Enfim, muito pano para a velha manga.
Li o artigo e acho uma leitura, no final, meio equivocada do Leite.Suponhamos que exista realmente um gene determinante da homossexualidade, assim como existem para a cor dos olhos, da pele, dos tamanhos, etc. Bem, somos e continuaremos sendo divididos entre pessoas preconceituosas e não-preconceituosas. Os preconceituosos poderão ler a homossexualidade como doença, os outros como uma característica qualquer. Esta é uma situação já vivida hoje.Alguém vai querer se analizar geneticamente, e ao parceiro, para saber se portam o gene e se o filho ou filha será homossexual?Claro que sim. Idiotas sempre existiram. Esta sim, a idiotice, deveria ser uma doença com cura…
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O problema, meu caro Guilherme, é haver tecnologia ao alcance da mão para eliminar a questão. E poderia ser feito fosse por homofobia pura e simples, ou por não querer um filho que tenda a ser amplamente discriminado, com conseqüências “respingando sobre a sua família” (muita ironia aqui). Vai dizer que mesmo sendo moralmente atacável, se estiver disponível, essa perspectiva não acabará ocorrendo com muita freqüência?
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Essa análise genética da homossexualidade, caso se torne realidade, provavelmente virá embutida num pacote maior, hoje já bastante disseminado, que investiga uma série de doenças genéticas…
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Ricardo, tenho certeza que muitos dos preconceituosos-com-condição-financeira irão usar uma possível tecnologia para escolher a sexualidade dos filhos. Mas não invalida o que eu disse, essas pessoas já acham que a homossexualidade é uma doença, assim como os fundamentalistas de algumas religiões (aliás, o que leva uma pessoa a dizer:-“eu me curei, não sou mais homossexual graças a Jesus”?).O maior culpado é quem cunhou a expressão “doença genética”. Pode parecer brincadeira semântica, mas se é genética não deveria ser “doença” e sim “característica”, por pior que seja, como as más-formações.O problema aqui é a Moral, e a ciência deve passar ao largo dela.Com Ética, of course.
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Embora a amostra tenha sido relativamente pequena para uma afirmação (90 sujeitos)tão importante, a chance de erro calculada (o tal “P” que aponta os dados como estatisticamente significativos) é muito pequena. O que nos leva a crer que os achados iriam se repetir com uma amostra maior.Ou seja, há sim diferenças anatômicas na amígdala ao se comparar homos e heterosessuais.E ponto. A origem dessa diferença (a gigantesca e infindável briga herdado X adquirido)e a caracterização como patologia ou “normalidade” são apenas hipóteses a serem refutadas ou corroboras em outros estudos. Este daí não tem como responder. E nem sei se são as perguntas certas.Tanto é que o cérebro de músicos é -anatomicamente mesmo- diferente de não-músicos. Mas ninguém afirma que ser músico representa um caso patológico (embora haja muita evidência disso por aí, mas já é outra história).O velho dilema de Tostines. Vende mais porque é fresquinho ou…Bom, são cérebros diferentes; alguém esperava que cérebros iguais fizessem coisas diferentes? Mais um ponto para a alteridade.
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Desconfio brabamente dessa pesquisa. Não acredito.
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Acompanho o raciocínio do Meandros. As diferenças existem, mas a pergunta sobre serem inatas ou adquiridas não foi respondida.Guilherme, a impressão que tive do teu comentário é que defendeu a ciência. Nesse sentido, fecho com você, e o Marcelo Leite também. Mas não sou tão otimista em relação ao uso de resultados que eventualmente apontassem para diferenças genéticas entre homo e heterossexuais.Faço uma analogia com o parto normal vs. cesariana. Há décadas vemos abusos no número de cesarianas tanto nos hospitais privados quanto nos públicos, abuso pautado por interesses econômicos (durante muito tempo pagou-se mais por cesarianas do que por parto normal), quanto por comodidade das clínicas, hospitais e equipes médicas, que podem agendar o procedimento de acordo com os seus interesses. A indicação sobre o procedimento cirúrgico passa longe de obedecer a critérios clínicos!A analogia fica por conta da hipotética perspectiva de se fazer uma série de exames que indicassem, entre outras coisas, predisposição genética para a homossexualidade. A facilidade do descarte — e aqui suponho a fertilização in vitro — se imporá, do mesmo jeito que se impõe a preferência por meninas brancas por parte dos casais em busca de crianças para adotar. Preconceito? Claro que sim. Mas seguirá ocorrendo, e não em menor grau.Pax, as diferenças em si não mudam muito as coisas. O ponto crítico é saber se são inatas ou adquiridas. Se forem inatas, considero as perspectivas mais complicadas, ainda que muitos pensem o oposto.
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Ricardo, meu achismo é que são características adquiridas. E o estudo, até onde percebo, não é conclusivo e tenta forçar uma barra.
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Seria muito fora da discussão perguntar o que implicam essas semelhanças, quero dizer, qual seria a função da amídala no comportamento sexual? Digamos… Quer dizer, por exemplo, que homens homossexuais pensam semelhante a mulheres homossexuais? Em termos eróticos ou sociais? O que define masculino/feminino? Ou isso não está sendo discutido?Falando com amigos gays, muitos deles, a maioria ressalta aspectos bem “masculinos” em seu comportamento sexual, quero dizer, não esperam do sexo o mesmo que a maioria das mulheres “espera” deles.
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Correção: mulheres heterossexuais.
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Nem um pouco fora, Fred. Aliás, o Catatau acabou de levantar uma série de questionamentos interessantíssimos que de certa forma vão na linha das tuas perguntas. Vale uma passada por lá.Não li direito a pesquisa ainda, apenas o post do Marcelo Leite. Mas gostaria de ver uma pesquisa com adolescentes ou com pessoas de no máximo 18 anos — seria complicado com mais novos por motivos éticos —, pois a variável socialização não é controlada, ainda por cima sabendo que todos os sujeitos têm em torno de 30 anos. Aspectos transculturais tb deveriam fazer parte da pesquisa, isto é, a mesma deveria ser replicada em diferentes países. Enfim, como já disse, é pano para a manga!
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vem cá, precisa de pesquisa cientifica para saber que os homossexuais masculinos são afeminados e os femininos são masculinizados?
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Tava faltando esse seu humor ácido por aqui, Chest, hehehe!Abraços
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Não acredito que o homossexualismo seja genetico, pois sou a prova viva disso. Eu fui homossexual durante vinte anos, desde a adolescencia, mas hoje sou casado e amo muito minha esposa e nossas duas filhas. Me sinto muito melhor agora seguinto a natureza do que naquela época.
As pessoas falam sobre coisas que não conhecem.
A relação entre um homem e uma mulher não é apenas fisica, é também quimica e biologica. Eu acredito que existe uma complementação hormonal que não existe na relação homossexual. Toda vez que eu transava com meu namorado aos 20 anos, sentia depois uma sensação de descoforto e incerteza que não sinto quando faço sexo com minha mulher.
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Caio, teu relato dessa experiência é bem sintético e obviamente respeitável. Só que me parece um pouco confuso, já que começa falando que a homossexualidade não seria genética, mas depois alinhava uma série de ideias de conotação biológica:
“Me sinto muito melhor agora seguindo a natureza”
“A relação entre um homem e uma mulher não é apenas fisica, é também quimica e biologica.”
“Eu acredito que existe uma complementação hormonal que não existe na relação homossexual”
Não sei sobre a homossexualidade ser ou não genética, embora não descarte alguns aspectos dessa ordem. O que sei é que a questão maior está em como lidar com a questão, seja do ponto de vista individual, seja do coletivo. E isso não tem nada de genético, mas sim de social, ético e político.
Ah, só um pequeno detalhe, prezado Caio. Você usou a palavra “homossexualismo”, mas ela está em desuso há algum tempo pela alusão que faz à ideia de tratar-se de um doença. De resto, se você se diz melhor com as escolhas afetivas que fez, fico satisfeito por você. Porém, isso não significa que eu concorde com crenças tais como “complementação hormonal”, só para ficar em uma das que você mencionou.
Saudações
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