Leio no Blog do Marcelo Leite (Ciência em Dia) uma notícia incômoda para os que como eu falam tanto sobre as questões culturais por sobre os determinismos biológicos (o vídeo está aqui). O próprio Marcelo Leite fala:
“(…) segundo leio em reportagem da revista de divulgação britânica New Scientist, filhotes machos de macacos resos têm clara preferência por brinquedos típicos de meninos humanos, como carrinhos. E macaquinhas, por coisas como bichos de pelúcia… Em outras palavras, como não se pode atribuir a esses primatas o mesmo espectro de influências sociais que ensinam às crianças humanas quais são seus papéis de gênero, haveria algo de inato nessa preferência. Vale dizer, de ‘biológico’. Alguma coisa nas disposições naturais desses bichos os predispõe para uma coisa ou outra — só falta descobrir o quê (a rigor, pelo menos o meu antideterminismo se queixa é da incapacidade dos deterministas de apontar o que seja esse quê). A pesquisa foi realizada pela equipe de Kim Wallen, do Yerkes National Primate Research Center em Atlanta, Geórgia (EUA), na Universidade Emory.
O artigo científico correspondente, ‘Sex differences in rhesus monkey toy preferences parallel those of children’ (Diferenças sexuais nas preferências por brinquedos de macacos resus são paralelas às de crianças) foi publicado no periódico Hormones and Behavior.
‘Eles não são submetidos a publicidade. Não são submetidos ao encorajamento dos pais, não são submetidos à pressão dos pares’, disse Wallen. O grupo de pesquisa pôs apenas brinquedos de dois tipos (…) à disposição da macacada (11 machos e 23 fêmeas), com rodas ou sem rodas, com dez metros de distância entre eles. De início, todos rodeavam os dois tipos. Com o passar do tempo, os machos agarravam os que tinham rodas e saíam correndo. Típico. Ou então, pegavam os bichos de pelúcia para socar.”
Pois é, durma-se com um barulho desses. Mas nem tudo está perdido. Ainda bem que a pesquisa só ficou nos carrinhos e nos bichos de pelúcia. Quero ver na hora em que pesquisarem sobre as parafilias e as relações de gênero…
Ricardo,Saudade daqui.Por falar nisso, why the hell você não continua a história?!Abraço!!!
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Muito interessante. O problema é que a amostragem é muito pequena. Acho que não faz sentido falar em uma grde amostragem de meninos e meninas, já que os culturalistas podem argumentar que já estão expostos às contingências sociais. Mas aí dois problemas aparecem: o primeiro, de ter um dado numerico bem convincente, e creio que até os culturalistas não discordariam que existem tendências inatas como essas; o segundo problema – mais sério – residiria em defender que essa predisposição é DETERMINANTE, e especialmente em uma sociedade. O que é um tipo de passagem inadequada (passar da probabilidade à determinação), e que não denota nenhuma necessidade. Mesmo havendo predisposições, somos homens, e logo, havendo ou não continuidade biológica, podemos nos auto-determinar com certo sucesso, inclusive contrariando tendências genéticas, e por aí vai…abração,
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André, te respondi por e-mail. Apareça mais, faz falta também.Abraços
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Catatau, o que vc levantou é mais do que pertinente. Claro que o experimento não “prova” o determinismo biológico. É a velha questão da “liberdade de”, diferente da “liberdade para”, distinção crucial em relação a outras espécies. O que fazemos das nossas pré-disposições é o que somos, não é?Abração
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E agora nada. Se o resultado fosse outro daria muito mais discussão, e questões outras.Neste caso, e acho que só neste,não concordo com o catatau.Macho é macho, fêmea é fêmea. Determinados biológicamente sim senhor. Nuances e pontos-fora-da-curva-normal não são base para nos “auto-determinar com certo sucesso, inclusive contrariando tendências genéticas”.
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Pois agora sou eu a discordar de ti, Guilherme. Diferenças, sim, mas a variabilidade na nossa espécie — aliás, há pouquíssimos instintos em nós, por exemplo — fala de uma dimensão simbólica que é capaz de subverter determinismos. Daí que falar em predisposições, como diz o Catatau, seja o mais acertado, isso sem cair na tentação de dizer que seríamos uma espécie com alguma aura divida ou coisa parecida…
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Ricardo, normalmente fazemos muita confusão entre sexualidade e gênero. Neste hormônios são determinantes, naquela são “predisposições”.Quanto mais acreditarmos que nossa espécie é especial, mais deterministas ficamos, o ápice sendo a deificação do Homem, que é onde o Destino se impõe – “graças a Deus”, “Deus quis assim”, etc…Se “Deus” impõe não há auto-determinação que se sustente.
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Mas na minha defesa do anti-determinismo, Guilherme, não coloco nenhuma deificação no meio, esteja certo disso. Penso mesmo em ciência, e não em crença. Se as evidências apontarem para um determinismo irrefutável a respeito de homens e mulheres, pouco importa se ficarei incomodado com isso. A nossa espécie é mais uma. As formigas e as baratas fazem melhor do que a gente, por exemplo. (Resta perguntar: o que seria fazer “melhor”? Critérios, paràmetros de análise, eis a questão…)
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