Comidas perversas

Não, hoje não se trata de falar do filme A Comilança, do Marco Ferreri, que deixo para outra ocasião. (Além do mais, as últimas discussões que tenho presenciado sobre o futuro de Cuba depois da renúncia de Fidel já se tornaram o suficientemente indigestas.) Sendo assim, prefiro resgatar algumas lembranças e ao mesmo tempo confirmar o quanto o ser humano é mesmo uma espécie onívora, e que, da minha parte, faço jus a essa característica.

Depois destes prolegômenos, começo com uma frase dita no México: “Corre o vuela? A la cazuela!” (Corre ou voa? Pra panela!). É, eles são mesmo chegados numa entomofagia — palavra metida a besta que significa “comer insetos” — e há muitos exemplos que tive o prazer de apreciar quando passei uma temporada por lá. E um dos mais conhecidos internacionalmente é o gusano de maguey (Acentrocneme hesperiaris) uma larva que vive nessa maravilhosa planta — já que de algumas das variedades do maguey é que saem o tequila (sim, acostumem-se a dizer “o”, do mesmo jeito que não suportamos quando dizem “la” samba…), o mezcal e o pulque (esta sim uma bebida muito esquisita) —, larva essa que além de se comer frita, costuma ser colocada dentro de garrafas de mezcal (uma forte aguardente de lá), e será mesmo afortunado aquele que for premiado com o gusano na hora em que forem servir-lhe uma dose!

Bom, fora esse, há muitas outras larvas, insetos (e ovos de) na culinária daquele país. Os Escamoles, por exemplo, que são larvas de uma espécie de formiga de nome científico Liometropum apiculatum — e são caríssimos, quase um caviar de beluga, só que branquinhos branquinhos… (Salivei só de lembrar!).

Mas vamos a um dos meus favoritos, os jumiles, mais uma iguaria fina da culinária mexicana. E para aqueles preocupados com uma alimentação saudável, vale dizer que eles possuem grande quantidade de proteínas. Só para que tenham idéia, 100 gramas de carne de boi têm entre 54 e 57%, enquanto a mesma quantidade de jumiles chega a 70%! Há de se chamar a atenção para alguns detalhes, como o fato de nem sempre ser algo fácil de comer. Acontece que é preciso tanto destreza quanto velocidade, caso contrário eles escapam de sua boca, já que é muito comum comê-los vivos… Aproveito e ponho cá uma receita para vocês:

Ingredientes:

– Algumas centenas (se preferir milhares) de jumiles (a bacia na foto é uma boa medida);
Chile guajillo (ou serrano. Se não tiver, taca salsa Tabasco mesmo!);
– Tomates frescos;
– Tortillas de milho (aquecidas num “comal”. Frigideira serve)

Preparo:
Pegue uma tortilla, ponha os tomates (em rodelas ou pedaços, não faz diferença) e jogue a salsa Tabasco nela (pois já sei que você não encontrou o chile guajillo…). A seguir ponha uma generosa (e rápida) concha de jumiles (e não adianta: muitos fugirão no trajeto da bacia à tortilla; outros tantos, da tortilla à boca; e mais uma porção, entre a boca e a garganta…). Feito isso, nem pense: mande logo goela abaixo!

Podem ser comidos também à seco, no susto. Se quiserem, vai muito bem com sal e limão. Melhor ainda se entornarem umas doses de tequila “El Jimador” antes, durante e depois.

Obs.: Se com tudo isso lhes faltar coragem, existe uma versão moída, com chile e tomate. Vocês nem se darão conta que comeram parente de grilo.

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3 respostas para Comidas perversas

  1. Pax disse:

    Bem, já que você tá tendo um caso com a namorado do Chesterton abaixo, acredito que comes qualquer coisa mesmo. Não duvido de mais nada.

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  2. Ricardo C. disse:

    Hahahahaha!!!

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  3. Pingback: Ricardo C.

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